Uma varanda sobre o rio
Pelas terras do Douro, Património Mundial, é um fenómeno sem explicação a inexistência de locais, no mínimo aprazíveis para apreciar em envolvência gastronómica adequada, a beleza que a Natureza, com a contribuição secular do Homem, proporciona.
É, assim, difícil descobrir um sítio onde se vá por comer bem e ainda muito mais difícil onde se vá, passe a repetição, por comer bem e em local agradável.
Finalmente, o carácter empreendedor do proprietário do restaurante Cepa Torta em Alijó, que é um dos poucos pontos procurados por bem comer, veio proporcionar neste restaurante recentemente inaugurado, aquilo que há muito tempo fazia falta por estas terras de particular beleza.
O D.O.C. não é só um restaurante. Veio aproveitar na Folgosa do Douro um amplo edifício literalmente construído em cima do rio, onde se pode chegar de barco estacionável na marina disponível e usufruir deste local de eleição para um fim de tarde deslumbrante na sua esplanada.
Esplanada essa que também funciona na hora das refeições quando o tempo o permite. Como se vê são já várias e relevantes as inovações por estas terras do Douro.
Cozinha trabalhada
Foi precisamente o proprietário do referido Cepa Torta quem se dedicou às artes gastronómicas, tendo vindo a aprender novas técnicas tanto no país como no estrangeiro, incluindo, entre outros, um estágio com o grande chef Miguel Castro Silva. O resultado foi trazer novidades à restauração duriense sem no entanto deixar de aproveitar a referência das raízes da cozinha tradicional desta região.
São muitas as hipóteses com a vantagem de serem apresentadas sob formas variadas. Quer isto dizer que para além da ementa propriamente dita, é possível optar pelo menu de degustação onde a terrina de ‘foie gras’ em vinho do Porto contracena com a morcela de Trás-os-Montes, o ‘risotto’ de sapateira e lombinho de vitela maronesa.
Mais engraçado pela sua originalidade será o menu de azeite, onde se pode experimentar o bolinho de alheira com míscaros em azeite trufado, o bacalhau com broa em azeite virgem de Murça, o medalhão maronês com migas de batata, grelos e broa e o tradicional pudim de azeite com laranja. Como se vê pela descrição acima, a preocupação do cozinheiro em revelar aos seus clientes sugestões diferentes é óbvia. Como curiosidade refira-se que num ecrã disponível na sala o que passa não é produto da TV Cabo, é a própria cozinha do restaurante revelada ao cliente
Mas há ainda muito por explorar. Outro menu, chamado de executivo, onde se combinam várias das propostas da ementa propriamente dita. Deixe-se ficar a sugestão para os milhos à transmontana, as migas de alheira e um bacalhau lascado com puré de grão de bico. O peixe fresco e do mar representado pelo robalo prova que a velha ideia de que no interior só o bacalhau vingava é falsa.
De carnes está o D.O.C. bem servido, começando pelo lombo de vitela, o porco bísaro, o cachaço com requinte de temperatura na cozedura prolongada e a caça, perdiz e javali do monte. Saúde-se a existência do prato vegetariano e para os mais preocupados com a “saison” uma hipótese de dieta.
Estamos ainda no princípio, mas como se pode perceber a promessa parece consistente, embora não ficasse mal um ou outro apontamento, em tantas hipóteses, de cozinha verdadeiramente regional.
Vinhos D.O.C.
Louvável é, como o local bem o merece, a selecção de vinhos apresentada. Com a vantagem de ser também servido a copo, fora das banalidades correntes. Uma boa hipótese para ver da esplanada o comboio a passar ali mesmo em frente pela Quinta das Murças. Evidentemente com a produção do Douro em destaque. Destaque que se prolonga pela lista, ainda não completa, mas elaborada cuidadosamente com a indicação devida do ano e do enólogo. Algumas raridades estão disponíveis.
Por fim, a sobremesa. A escolher entre o pão-de-ló molhado, o bolo borrachão ou o queijo da Serra com marmelada de Touriga nacional. Na companhia, ou não, conforme o gosto, por um Porto.
E assim fica de parabéns o Douro que ganhou um restaurante D.O.C.